Quando chegar minha hora




Pois, é.



Éramos diferentes.


Eu gastava tudo — eles poupavam.
Eu tomava Champagne — eles bebiam cerveja.
Eu amava livremente — eles se envolviam com ciumentos.
Eu era um poeta louco — eles eram respeitáveis.
Eu criava conceitos — eles adoravam as coisas.


Enquanto eu fazia amor, eles faziam filhos.
Enquanto eu fechava os olhos, eles vigiavam.
Enquanto eu estudava e dançava, eles cuidavam da prole e do cônjuge.
Enquanto eu viajava sem destino, eles faziam seus planos e desenhavam seus mapas.
Enquanto eu saltava profundo, eles viam novela.
Por isso hoje eu vivo aqui, sozinho — e não tenho nada além de amores.

Mas eles ainda se amontoam, brigando por inventários e calculando seus haveres...

Não seria justo, portanto, que Deus nos desse agora as mesmas dores.
Pois é...


Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.



Vou falar agora de dois grandes amores simultâneos.

(...)

Eu me apaixonei pelas duas — ao mesmo tempo. Mas, enquanto Patrícia desejava "o melhor" para mim, Suzana só queria que eu fosse um poeta louco, exagerado. Eu, de minha parte, que nunca tive mesmo a pretensão de ser indispensável, só queria fluir. Fluir e voar, enquanto ainda houvesse algum vento de liberdade soprando em mim. Enquanto ainda tivesse meia dúzia de asas, todas livres, saudáveis e amorosas.


Patrícia, por uns tempos, foi o meu maior amor, em quase todos os sentidos. Suzana, também. Por isso, dediquei a elas tudo o que fiz de melhor naquela fase da minha vida.

Era sincero quando lhes dizia, a cada uma, "eu te amo". E também sincero nos momentos em que só pude amá-las em silêncio profundo porque estava, respeitosamente, com outras.

Corria o ano de 1999.


E a Vida, ali — aqui — me convidando como fosse Tentação.

Como todo mundo que busca crescimento espiritual, eu tenho dois lados: o sério e o gostoso. Patrícia, é claro, queria o primeiro. Suzana — o gostoso. Patrícia queria, primeiro, o eterno, o estável, o mais tarde. E Suzana queria, primeiro, o segundo, o momento — o agora! Patrícia queria o marido. Suzana, o poeta. Patrícia, como já disse, era sensualíssima, mas Suzana tinha a inocência mágica dos 17. Enquanto Patrícia adorava o burguês que morava no meu corpo, e me cobria de roupas, perfumes e presentes, Suzana só me descobria. Adorava o meu lado maluco, segurava minhas mãos como se me pegasse todo, e dizia, olho no olho, sorrindo, encantada:

Viva a vida, Edson — nos três sentidos!

Patrícia queria certezas; Suzana me jogava no abismo.

Patrícia significava segurança, estabilidade.

Mas Suzana quer dizer Aventura!

Durou quase dois anos esse nosso delicioso triângulo de vertigens. E foi só quando chegamos ao pico é que tive de optar com veemência. Porque, de Patrícia, eu tinha que me salvar correndo, para enfim poder viver. E de Suzana, eu só queria ter belíssimas lembranças...

De cabeça, no coração da Vida.










Só que está morto não muda.


O domínio absoluto sobre os meus estados de espírito é a minha maior conquista como ser humano. Tenho independência emocional. Há mais de 
vinte e oito anos que não perco a calma. Há mais de vinte e oito anos que não produzo adrenalina desnecessariamente. Não brigo, não xingo, não bato. Não sinto raiva nem ódio, nem ciúmes, nem rancor. Não me irrito por absolutamente nada. Nunca tive mau humor. Não tenho nem sequer aqueles nozinhos horrorosos na garganta. Não me descontrolo jamais! Não há motivos racionais que possam me abalar. Não discuto nada, a não ser filosofia. Filosofia e política. E arte. E sou amorosamente zen...


Como consigo tal façanha? — você pode perguntar.



É muito simples: Dou valor secundário às coisas secundárias. E considero secundário tudo aquilo que não é fundamental... Tudo aquilo que não tem poder de causar mudanças significativas no rumo da minha vida. Considero secundário tudo aquilo que não me traz felicidade.


É muito simples — e é uma delícia!


Experimente.





O livro Mude








O Comercial da Fiat







Neste ano eu quero que você mantenha apenas três tipos de relacionamentos:


1. Os que te dão prazer e alegria;

2.
 Os que são necessários à tua sobrevivência;

3.
 Aqueles que te trazem boas informações ou sabedoria, estimulam a criatividade e te fazem progredir.


E que todos os demais sejam considerados dispensáveis.






Eu adoro esse vídeo!






O Livro de Jó


Jó havia perdido tudo: a esposa e as amantes, o gado, os filhos, a lavoura e as empresas. Perdeu seus camelos, suas tendas e colares. As carroças conversíveis e os cartões de crédito. Seu mundo começou a ruir. E Deus ainda teve a maldade de cobri-lo com lepra da cabeça aos pés. Jó ficou sem a casa e o jardim, sem o churrasco e a cerveja, sem a música, sem champagne, sem morangos. Na miséria mais absoluta. Sem café e sem Drambuie...

Seus amigos — como sempre acontece! — desapareceram. Até seus irmãos o desprezaram.

Jó perdeu tudo, mas não perdeu a autoconfiança. Perdeu tudo, menos a fé — que era exatamente o que Satanás queria que ele perdesse.

Você sabe da história: Deus apostou com Satanás. Aliás, segundo a Bíblia, essa foi a única aposta que Deus já fez em toda sua vida. Então a esposa de Jó, ciumenta, pede-lhe que amaldiçoe Deus — e que morra. Como você vê, já naquela época o casamento acabava em pancadaria. Depois, ainda chegam três amigos que ficam sete dias e sete noites reclamando no ouvido de Jó. Visita de sete dias é um horror; amigo reclamando, então, nem se fala. E Jó, mesmo assim, não amaldiçoou Deus, não — de jeito nenhum.

Mas quando ficou de saco cheio daquela situação, resolveu agir, decidiu confrontar Deus. Subiu ao topo da montanha mais alta que havia naquelas bandas, e gritou: "Deus, o senhor tá me fodendo, mas eu nunca pequei, não mereço passar por isto. Sou inocente!"

E Jó louva Deus.

E Deus então fala com Jó através de um trovão. Deus usa metáforas, você sabe. Às vezes metáforas ribombantes... Deus manda sinais — e não é todo mundo que os entende. Deus não fala português. A presença de Deus impressiona Jó, mas Deus não lhe dá as respostas que ele queria. Deus usa uma linguagem poética, e lhe pergunta: "Jó, onde o caminho da morada de quem engendra a geada do meu céu?"

Jó fica pensando. E mesmo sem ouvir as respostas que buscava, Jó tem um insight. Jó se transforma espiritualmente, se arrepende, aceita o seu destino, aceita as suas dores. A sua sina. A sua cruz.

Então Deus começa a devolver tudo o que Jó havia perdido: os camelos, as amantes, as tendas, os cartões de crédito, a saúde, as carroças conversíveis, a alegria de viver — e até mesmo o celular e os licores. Mas quando chegou a vez da esposa, Jó gritou: "Essa, não, meu Senhor. Essa não!"


E Jó voltou a viver — cheio de graça e alegria.
E dormindo sozinho numa casa de casal.
Dizem que chegou aos 140 anos...
Feliz da Vida!




O Livro de Jó é radical.

Portanto, antes que a nossa hora chegue, eu gostaria que você pensasse um pouco mais no Livro de Jó. Na aposta de Deus com Satanás — esse duelo de titãs. Como é que foi parar na Bíblia essa grande obra literária? A principal questão do livro de Jó, filosoficamente, é esta: Qual a razão do sofrimento humano? É bom lembrar que estávamos no ano 400 antes de Cristo, mais ou menos. E o autor dessa história ninguém sabe quem foi. Mas era um gênio da literatura, o Shakespeare da Bíblia. Fosse hoje, teria criado um blog chamado Mude a Vida.


Edson Marques.
Minha respeitosa versão.
Do meu livro Solidão a Mil – página 352.




Como se pode notar, o importante é ter ideias e nunca perder a fé na Razão.




Quando chegar minha hora, eu quero almoçar no Gaúcho, um virado de feijão que nem minha Mãe fazia.

Joelho de Porco hoje no Gaúcho.

Com virado de feijão e couve, e um copo de cerveja. 

01.02.25

A vida é uma delícia!




Porém, semana passada acabei almoçando sozinho aqui na Casa Azul. Uma comida que eu mesmo fiz, amorosamente, logo após ter escrito um texto complexo para um dos meus projetos. E fico aqui pensando: nunca passei fome, em toda minha vida. Considero isto uma bênção. Tive a sorte de poder, junto com meu Pai e minha Mãe, aos 16 anos, abrir um restaurante que ainda hoje existe, e onde eu comia picanhas e filés no almoço e no jantar. Porém, comunista que sou desde que nasci, lembro-me sempre de Knut Hamsun. E preocupo-me com os famintos. Pois a fome é sempre dolorida, suponho.








Vamos falar um pouco das origens...



Eu fui gerado sem pressa, na primeira noite enluarada de uma Primavera escandalosa, por dois seres amorosos e amantíssimos, no quarto da frente de uma casinha de madeira ao lado de uma roseira branca, no finzinho de uma rua principal...


Quase debaixo do pé de manga da Vó Vitalina.




Não tinha como dar errado!



O acolchoado florido que minha Mãe me deu em 1994.
Tenho até hoje.



E falar também dos novos projetos




Que era minha ideia 790, que eu tive durante o café da manhã no Itararé Hotel, em 01.08.2019. Nessa época eu fiquei morando nesse hotel por um ano e quatro meses. E conversando quase todos os dias com o Sr Walter e a Dona Zada Pelissari. Grandes histórias. Enormes alegrias.




Eu adoro esse meu carrinho de brinquedo. Mas veja o que vou fazer com ele quando chegar minha hora:

www.Edson2025.com/p/bio.html

Click acima para ver detalhes.




Os lírios também morrem. Título para um poema, talvez um livro. Pensei agora, sentado na varanda, ao lado do vasinho que já foi jardim. O perfume dos lírios me envolve de uma forma impressionante. Dois estão morrendo, mas um monte de outros florescendo. Lembro-me de Patricia e de Suzana — e do brilho cintilante que elas tinham. Ia dizer que hoje não tem pássaros aqui, mas acabo de ouvir um. Passa voando, amarelinho, bem-te-vi. Me concentro bem-te-vejo ainda mais e ouço outros, muitos, tantos, até uma sabiá. Tomo mais um gole delicioso de café, que ofereço em silêncio à minha Mãe, faço um brinde ao sol que se levanta, lembro-me de Deus e de Montaigne — e sinto que hoje é hoje, nada mais.

Dois meses depois da minha última visita à Casa das Bruxas.






Mas hoje eu quero falar de algumas ideias minhas dentro do Projeto EMc3 (*).




Quero contratar você para executar algumas ideias minhas. Esta a abordagem que utilizarei, em princípio, com certos empresários, vendedores, cientistas, escritores, funcionários, professores, amigos e até mesmo alguns amores. Todos brilhantes.  Pois é disso mesmo que se trata. Como criador, já não tenho tempo de executar todas as minhas ideias. A quantidade enorme de ideias que produzo todo dia. Portanto, tenho que terceirizar a execução delas. São ideias quase sempre geniais. Se não fossem, eu não teria a petulância de propô-las a você.

Esta é a minha ideia 218.
Edson. Guarujá. 16.08.2012. 05h21.

Expandida para juntar-se à minha ideia 1.292.

Sei que você tem certas competências, e quero utilizá-las da melhor maneira possível.


Sei que você também tem certos recursos, inclusive intelectuais, que precisam ser melhor direcionados.


Também sei que você já não tem tempo. Nem para si mesmo, nem para sua família, nem para seus amores. Então, como, mesmo assim, eu posso estar querendo contratar você para um ou mais projetos novos? Aqui é o X da questão. Antes de contratar você, eu quero te ajudar a ter mais tempo. É simples a fórmula. Eu te ajudo, você melhora – e então eu te contrato para aquele projeto que te parecer mais interessante. Pra isso, criei um site onde exponho minhas ideias. Um esboço público delas. Se houver interesse de sua parte, conversaremos.


Pago bem.




Mas, antes de (não) aceitar a minha oferta, conheça um pouco mais da minha Vó Vitalina, a quem tudo devo, inclusive a vida.

Vó Vitalina e minha Mãe.





E também veja por que sou uma
Máquina de Vendas.


Mas nas horas vagas eu trabalho.




A vida é uma aventura extraordinária.



Meu poema Mude no comercial da Fiat.



Se não for agora, quando?


Tem hora de parar — e tem hora de partir,
tem hora de permanecer quieto e calado num canto,
e tem hora de cantar e de voar.
Agora,
agora não é hora de dobrar as asas,
nem de calar a voz,
nem de catar gravetos para fazer o ninho.
Agora não é hora de sentir remorsos,
nem de buscar consolo, nem de caiar o túmulo.

Agora que estou na beirada,
bêbado de alegria — pronto para o salto,
não me segure em nome de nada.
Não queira impedir-me dizendo que é muito cedo,
ou que é muito tarde,
ou que está escuro, é perigoso, muito alto,
muito fundo, muito longe...

Não!

Se você não puder incentivar-me para o salto,
ou até mesmo empurrar-me com amor em direção à Vida,
não me prenda, não me amarre.
Não envenene com teu medo a minha dança.
Seja só uma testemunha silenciosa desta vertigem.
Porque agora,
agora é hora de voar.
Agora é hora de abrir-me a todas as possibilidades.

E voar um voo livre e sem destino para dentro de mim mesmo!








Só tem uma coisa pior do que morrer:



Quando chegar o meu dia (e eu saberei quando chegar o meu dia), vou contratar o filho de um marceneiro judeu para fazer minha cruz. Terá que ser de madeira nobre, e mandarei pintá-la de preto. O suporte dos meus pés será prateado, no meio do mastro. Quero lindos cravos de ouro, perfumados, e uma tarde calma no sermão das montanhas. Um crepúsculo cor de abóbora, certamente. Mas, antes de ser pregado, tomarei uma taça de vinho vermelho ao som de Vangelis. "Sauvage et beau". E chamarei meus últimos dez amores para que passem óleo de amêndoas doces no meu corpo entusiasmado. Quero brilhar nesse ato final. Terei colares de pedras preciosas no pescoço, e na cabeça, coruscando, uma escandalosa coroa de flores do campo.


Estarei quase nu — como aquele Outro
— e entusiasmado, naturalmente. Como Aquele Outro. Quero sentir meu sangue descendo pela palma das minhas mãos, gota por gota, vazando pelo buraco dos pregos. Vou encher de gargalhadas os ouvidos delicados que puderem me ouvir, vou gritar o teu nome de Deus em vão. E me lembrarei dos pecados todos que deixei de cometer por absoluta falta de tempo.


Quando enfim chegar minha hora, vou olhar para vocês, imaginar um aceno, fazer um poema, lamber os meus lábios, pedir mais um copo de vinho — e que o vinho seja esfregado em minha boca com esponja de algodão. Quero que minha Mãe me olhe sorrindo e me abençoe aos pés da cruz, e que os meus amigos e os meus amores — que todos eles dancem, e que todos eles gritem em coro:

Só o Prazer nos livra da loucura!


Será assim que vou deixá-los, meus amores.

(Será assim!)


— Um dia, talvez, quem sabe.

Daqui uns sessenta e quatro anos...









MULHERES

Não me bastam os cinco sentidos para perceber-lhes toda a beleza. Não me bastam os cinco sentidos para viver com totalidade o mistério profundo que elas trazem consigo. Eu tenho é que tocá-las, cheirá-las, acariciá-las, penetrar-lhes o sorriso, sentir o seu perfume, beijar-lhes o céu da boca, ouvir suas histórias, transformá-las em deusas. Tenho que dar-lhes o amor que o meu corpo conduz e sustenta-me a alma. O belo amor natural por todas as coisas do mundo. Como espelho de paixões em labareda, tenho que sentir nos seus olhos um raro brilho diamante.

Eu as respeito e as venero — com a graça de um cisne que dança num lago tranqüilo e a ousadia de um touro selvagem recém-despertado. Não lhes faço perguntas, não as pressiono por nada, não lhes tiro a liberdade, não quero mudá-las jamais. Sempre imagino o que estejam sonhando, e pulo de cabeça no sonho delas. Cavalgo o vento para visitar-lhes as razões, as emoções e as loucuras. Como um deus escandaloso e surpreso por sua própria criatura, entro no coração de cada uma delas, deliciosamente, como se entrasse numa pulsante catedral. Mergulho na essência dos seus desejos e cada vez me espanto mais com tanta fantasia. Os cinco sentidos, por não serem precisos, ainda não bastam, e preciso mais do que isso para compreendê-las.

Toda mulher é silenciosa por dentro. A existência pura se manifesta em cada detalhe. Assim na terra como no céu, amar as mulheres é uma experiência religiosa. E eu as amo, fina substância, como deve amar quem ama de verdade — incondicionalmente. Sem ciúmes. Eu amo as morenas, as loiras, as baixinhas, as altas, as lindas, as quase feias. Amo as virtuosas, as magras, as gordinhas, as diabólicas, as tímidas — e até as mentirosas. As iluminadas, as pecadoras, e as santíssimas. Amo as virgens, as pobres, as ricas, as loucas, as muito vivas, as inocentes. As bronzeadas pelo sol, e as branquinhas. As inteligentes — e as nem tanto. Desde que sensíveis, eu amo as jovens, as maduras, as solteiras, as casadas, as separadas. As bem-amadas, e as abandonadas. As livres, e as indecisas. E se me dessem o poder, o tempo e, principalmente, a chance, eu a todas elas daria, todos os dias, um êxtase cósmico, poético e sublime.

Apanharia flores silvestres, tomaria sol com todas elas, todo dia. Andaríamos descalços na areia, contemplaríamos crepúsculos cor de abóbora, jantaríamos à luz de velas, dançaríamos, tomaríamos vinho branco, olharíamos as estrelas. E eu lhes faria poesias de amor. Puro como um anjo, amaria cada uma delas eternamente — uma por vez. Com delicadeza, com doçura, com profundidade, com inocência. Entusiasmado, como se cada uma fosse a única. Como se no mundo inteiro não houvesse mais nada, nem ninguém.

Todas as noites, eu passaria cremes e encantos no seu corpo. Falaria sobre fábulas, contaria histórias românticas, as veria dormir. Ouvindo Beethoven, velaria por um tempo o sono delas, e, de madrugada, antes do sol raiar, antes do primeiro pássaro cantar, as cobriria com o resto de luar que ainda houvesse, e sairia em silêncio. Como um felino lógico, sensual e saciado, deslizaria pelo cetim azul-celeste dos lençóis, saltaria por sobre todas as metáforas — e sorrindo iria embora.

Enfim, se por acaso fosse Deus, eu com certeza não mais ficaria cuidando do universo e dessas outras coisinhas banais. Não ficaria controlando o destino das pessoas, o tempo, os compromissos, a pressa, o caminho dos planetas, a economia, o cotidiano, o infinito, os genes, a Internet, a geografia...    Não!

Eu somente iria amar as mulheres, como elas merecem — e como nunca foram amadas.


Só isso, definitivamente. Nada mais, nada mais!











A vida é muito curta.

Isto é fatal.

Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.


Teria quebrado as correntes logo no início.

Teria tido menos pressa
e mais coragem.

E nenhum sentimento de culpa.

Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.

Todas as manhãs começariam
com meditação, esplendor e frutas leves.


Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.

Minha Vida seria uma festa...

Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.

Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.

Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.

Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.

Teria viajado muito mais do que viajei.

Correria mais riscos.

E teria tido seis milhões de amores profundos...

Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.

Andaria mais leve:

não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.


Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.


Não teria tentado salvar todo mundo.

Amaria muito mais a liberdade.

Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.

Tentaria uma coisa nova
todos os dias.

Em tudo que eu fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.


E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.


Edson Marques

Manual da Separação
página 71



Este meu texto (apenas o tema) foi inspirado num poema chamado INSTANTES, erradamente atribuído a Jorge Luís Borges. Veja detalhes AQUI e também no Jornal de Poesia. (uma explicação.)



Eu optei por ser feliz aos doze anos de idade. Já lia muito, inclusive Pitágoras, Neruda e Karl Marx, mas não foram (só) esses três que iluminaram os meus caminhos. Eu olhei para os lados, e vi a vida sem graça que as pessoas do meu meio viviam. Aquilo me chocava. Eram pessoas infelizes, que só reproduziam relações antigas, só seguiam as regras. Acomodadas e passionais. Então, analisei as circunstâncias, vislumbrei um futuro, estudei ainda mais — e tomei a decisão. Conscientemente. Elaborei um Plano de Salvação. E o segui à risca. Com disciplina, com amor, com muita leitura, com estudos profundos, com determinação.


Deu certo.



Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...



Eu, no dia em que ia cortar os cabelos, em 1982.


A vida é uma aventura extraordinária.



Meu poema Mude no comercial da Fiat.





Hoje é aniversário de casamento da minha Mãe.


Musa com algema no dedo anular vira esposa. Com o tempo, desencanta. Por isso, não desperdice a musa: não queira casar com ela. Formalizar as aventuras é o mesmo que contratar o Desespero. O casamento pode acabar se transformando no túmulo do Amor.


Valerá talvez a pena ser corrido?

Não sei.



Mas não queira engaiolar a exuberância. Não engarrafe as emoções. Não sufoque a liberdade. A menos que você já tenha feito a opção por repetir as relações antigas, e tornar-se apenas um reprodutor da espécie… Claro que reproduzir a espécie também é uma tarefa digna, e pode ser até gratificante, em certos casos. Mas não tem nada a ver com Aventura e Liberdade.




Minha mãe e meu pai se casaram na igreja...

Ora, Edson — você pode me dizer — se teu Pai e tua Mãe não tivessem se casado, você não teria nem nascido.


Concordo, é verdade: eu nem existiria. Entretanto, por mais que eu hoje os agradeça, por mais que mil anjos os agradeçam de joelhos todo dia em meu nome — nada vai trazer de volta as aventuras gloriosas que meu Pai e minha Mãe deixaram de viver por causa do casamento. Nada! E se minha mãe, aos dezenove anos de idade, tivesse encontrado um poeta libertário como eu, em vez de um contador, certamente não teria se casado. E eu não estaria aqui, agora, conversando com você.



Como se vê, a Vida é um mistério delicioso!



Mas é preciso lembrar que eu mesmo já casei cinco vezes (com seis mulheres inesquecíveis). E todas foram experiências maravilhosas. Talvez porque o projeto nunca foi geração de prole, nem de contribuir para nenhuma estatística. Sabíamo-nos passageiros e assim nos comportávamos. Sempre houve um respeito absoluto pela própria liberdade e pela liberdade do outro. E, em cada um deles, nos separamos no pico da relação. Talvez isso tenha feito toda a diferença. A paixão nunca chegou a esfriar!



Hoje é aniversário de casamento da minha Mãe com meu Pai.




Mais uma pequena história no Guarujá


Em 29 de dezembro de 2013, revisando meu livro Solidão a Mil para uma nova edição, eu encontrei na página 384 a descrição de uma conversa que eu havia tido com Fernanda S (que morava no Tortuga) quando eu fui morar no Guarujá, em 1995. Era sobre as "Dez Razões Para Nunca Mais Casar De Novo" — título de um livro que eu então estava escrevendo. Em que talvez eu ainda acrescente parênteses, deixando uma abertura em defesa da liberdade: 

Dez Razões Para (Nunca Mais) Casar De Novo.

Eis a parte inicial do Capítulo 13:

— Odeio-me por te amar... — ela me diz quase chorando.
— Não entendo — minto-lhe que não entendi, segurando-lhe as mãos.
— Odeio-me por te amar do modo errado! — ela enfim confessa. E eu sei que essa confissão lhe é dolorida. Depois de seis meses tentando mudar-me, em vão, ela jogou a toalha.
Procurando continuar o diálogo que já dura séculos, perguntei:
— Mas por que você não pode me amar do modo certo?
— Porque eu só sei amar do modo errado... — ela diz e me abraça, como se quisesse adiar o momento final. Embora ela tenha qualidades fascinantes, eu não devo abrir concessões. Ceder uma vez só é mais difícil do que ceder nunca. E se eu, algum dia, amar do modo errado só para satisfazer um grande amor, nunca mais poderei de novo amar do modo certo. Aliás, se eu fosse do tipo que ama do modo errado, nem com ela hoje eu estaria. Eu estaria lá em casa, com a outra, que passou quase três anos me esperando no portão...
— É a vida... — tento consolá-la, sinceramente. Tento mitigar-lhe a frustração. Tento esticar por amor humanitário uma relação já por demais tensionada. Porém, por dentro de mim, tudo já está decidido: chegamos ao fim. Melhor perdê-la do que perder-me.


É a vida.


Vamos voltar um pouco à questão do desapego.


OLHAI OS LÍRIOS DO CÉU.


Eis uma verdade incontestável: todos os grandes mestres — quer religiosos ou não — desde os primórdios da História da Humanidade, nos dizem que o apego é a doença mais grave que pode acometer um ser humano. Olhai os lírios do campo e os pássaros do céu, dizia um deles... O apego está na origem da corrupção, da inveja, da cobiça, do roubo e do ciúme — entre outras maldades. É uma demonstração cabal de insegurança e falta de personalidade. Entretanto, se você tiver necessidade compulsiva de apegar-se a alguma coisa, apegue-se logo a um Camaro preto, e não a uma canequinha de lata. Por que amar um crocodilo se você pode amar um Deus? Apegar-se a uma coisinha comum, é imperdoável. É como apegar-se a uma canequinha de lata, ou a um saquinho de tranqueiras... É ridículo! Abandone as bugigangas.


O foco desse meu texto tem duas vertentes básicas. A primeira é o horror ao apego. Mas deixei uma alternativa para quem não consegue livrar-se dele. Que possa então escolher algo mais interessante para apegar-se: algo melhor do que uma canequinha de lata. Algo que possa dar mais prazer. Suponho que uma Mercedes conversível dê mais prazer do que uma canequinha de lata. Mas nem todos concordam com isso. Tem gente que nem dirige...


A segunda é a confusão entre apego e amor. Entre apego e gosto, preferências, escolhas, desejos. Eu gosto muito de pão e café: será que sou apegado a pão e café? Eu gosto de vinho e estrelas, eu amo a liberdade, eu amo a minha Mãe, eu amo meus múltiplos amores: será que sou apegado a isso tudo? Claro que não. Porque sou zen. E porque sou zen e lógico, suponho que sou zen. Entretanto, tem gente que se apega a beijos, a flores, amores.


Tudo vem da cabeça. Até o coração vem da cabeça. Inclusive os olhos. E os meus olhos se arregalam, mesmo, diante de uma Ferrari vermelha. Diante de uma obra de Niemeyer, de um poema de Neruda, de um sorriso de criança. Meus olhos se arregalam diante de um belo corpo de mulher. Meus olhos vivem arregalados... E se isso acabar sendo considerado uma demonstração de apego, então eu posso até contradizer, de algum modo, a minha própria zenidade. Racionalmente.




Foto que fiz aos doze anos em frente ao boteco do meu Pai.



Acho que esse assunto ainda vai longe.
Guarujá. 15.07.2013



.
O que será que tem atrás daquela porta?