Minha Mãe


Minha formação religiosa foi determinada basicamente por um conselho, dado com amor por Dona Iracy, minha Mãe, quando eu, aos oito anos de idade, estava de saída para a cerimônia da primeira comunhão e lhe falei sobre o medo que eu tinha de confessar meus pecados — aqueles mortais, veniais, fatais, sexuais, etc. e tais. 


Ela então me disse, piscando um olho: 

"Conte só os pequenos. Os outros já foram perdoados por Deus..." 


Dessa forma carinhosa, minha Mãe acabou salvando-me a alma do inferno cristão, só para depois jogá-la, também com amor e ternura, na socrática fogueira da poesia!


Mas hoje eu não cometo mais pecados.

A menos que sejam amorosos, inocentes, fascinantes, e se tornem, portanto, inevitáveis...


Eu me lembro das canções de ninar que Ela cantava para que eu não dormisse — do Kyrie Eleison ao Noel Rosa. Eu me lembro do conselho que me deu: que eu nunca deixe de ser Eu. E me lembro do dia em que eu nasci: era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias e esperas, de poesia e de romance... Era uma casinha de madeira e primaveras, ao lado de uma bela roseira branca — no finzinho de uma rua principal. Era hora de metáforas, era hora de loucuras. Como toda musa entusiasmada ela fora deflorada por um jovem delicado que se chamava Luiz. Era outra vez madrugada e ela sozinha outra vez. Foi então que essa Mulher maravilhosa se decidiu me dar a Luz.


E deu.



Era o começo de duas histórias de Amor.



Dia 02 de Janeiro é aniversário da minha Mãe.


Vou jantar com Ela hoje.


Aqui tem mais histórias sobre Ela.





Como se pode notar, eu sempre me alimento de Amor e de Mãe, de risco e paixão, de glória e loucura, poesia e mulher. E liberdade — é claro.

Mãe, eu queria tanto estar hoje de novo em teu colo... Só pra dizer: Te amo!







Eu quero que em 2025 você mantenha apenas três tipos de relacionamentos:


1. Os que te dão prazer e alegria;

2.
 Os que são necessários à tua sobrevivência;

3.
 Aqueles que te trazem boas informações ou sabedoria, estimulam a criatividade e te fazem progredir.


E que todos os demais sejam considerados dispensáveis.











Hoje (*) é aniversário da minha Mãe. E agora me lembro das canções de ninar que ela cantava para que eu não dormisse — do Kyrie Eleison ao Noel Rosa. Eu me lembro do conselho que sempre me deu: que eu nunca deixe de ser Eu. E me lembro do dia em que eu nasci: era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias e esperas, de poesia e de romance. Era uma casinha de madeira e primaveras, ao lado de uma roseira branca, no finzinho de uma rua principal. Era hora de metáforas, era hora de loucuras. Como toda musa entusiasmada era fora deflorada com amor e alegria por um louco jogador — que se chamava Lúiz. Era outra vez madrugada e ela encantada outra vez. Foi então que essa Mulher sagrada decidiu me dar A Luz. E deu. Era o começo de duas histórias de Amor.


Essa foto foi feita há 13 anos. Logo, ela está hoje cerca de 19,75% mais velha. Mas continua saudável, sorridente, bem-humorada. Aliás, eu nunca a vi triste. Sempre cantando, sempre alegre, agitando as circunstâncias. Nunca brigamos, eu e ela. Nenhum tapinha, nenhum puxão de orelhas, nenhum grito. Nós dois sempre nos compreendemos um ao outro. Como sou-lhe o primogênito e (suponho) ainda o preferido, há toda uma mitologia em torno disso... rs! Acho que até Einstein explicaria melhor do que Freud essa nossa maravilhosa relação de Amor.

(*) Texto escrito em 02.01.2013.




A garrafinha de mentruz com álcool que minha Mãe mandou pra mim, sobre aquele acolchoado florido que ela mesma me deu de presente em 1994.


Há exatamente sete anos Ela veio morar mais perto de Mim.


Minha Mãe e sua filha caçula Daniele.


Minha Mãe no jardim da Casa 2616.


Tomando vinho com minha Mãe na Churrascaria.




Eu e minhas sete irmãs, em 2004. Eloisa, Eliane, Regina, Rosana, Maria Inês, Rosalba e Danielle. No dia dessa foto nosso Amor estava no Pico. Era uma glória irrepetível. Aqueles seres amantíssimos que éramos nunca mais se encontrariam de tal forma. Deixei-as no Pico. Mas não foi um abandono: foi um sacrifício...











RAZÕES PARA CASAR

Um casamento jamais será opressivo (ou torturante) — se os casais abdicarem da sua tão querida liberdade pessoal. Suprimida esta, preferencialmente de forma consensual, a harmonia se instala na relação. O sentimento de opressão só advirá se pelo menos um dos parceiros continuar amante da liberdade. Afinal, ninguém se casa para ficar mais livre. Seria uma contradição... Nesse sentido, requer-se apenas uma verificação do custo/benefício: quanto perco da minha liberdade pessoal — e quanto posso ganhar em outros campos. Quanto prazer pode me dar uma possível reclusão. Quanta segurança. Quanta garantia. Quanto sossego. Quanta tranquilidade. A gaiola é bonita? Tem comida? São essas algumas das questões que se podem levantar para entender uma relação de amor.


Toda relação é restritiva — por definição. O que varia é o grau de restrição e os propósitos mútuos dos que se relacionam. Mesmo as relações comerciais são restritivas, posto que fundadas em mútuas concessões. Eu te dou um desconto — e você só compra de mim. No casamento ocorre a mesma coisa. Eu tolero a tua cerveja e o futebol, e você não reclama por me ver descabelada. Eu só transo com você, e você não sai com mais ninguém. Você me dá um desconto, que eu te pago à vista. E por aí vai.


É uma troca, simplesmente.


Também influem os objetivos imediatos ou remotos de cada um, além da sua (i)maturidade emocional. Emprego está difícil, vou me casar. Quero ter um filho, e preciso de alguém que o produza, eduque, ou sustente. Quero sair da casa dos meus pais. Quero morar com meu atual namorado ou namorada. Quero alguém para ser a projeção da minha mãe. Quero ajudar alguém. Quero que alguém me ajude. Quero ter a chance de exercer minhas ganas autoritárias. Quero constituir uma família. Quero ser respeitável. Quero voltar a ser santa. Quero uma empregada doméstica. Quero seguir a tradição. Enjoei do meu estado civil original. Quero reproduzir a relação dos meus pais, exatamente igual — ou corrigindo-a. Quero mudar de vida. Quero melhorar a vida. Estou apaixonada. Quero desperdiçar minha vida. Cansei de ser livre. Quero me regenerar. Quero fazer uma grande besteira. Quero fazer uma besteira monumental. Nosso casamento será diferente. Quero fazer amor todo dia. Quero ser feliz. Quero engordar. Quero foder a minha vida sexual... Etc.


Como se vê, razões para casar é o que não falta.


Porém, no casamento tradicional, há quase sempre um componente meio maldoso que, contraditoriamente, estraga muito a relação — exatamente para tentar mantê-la em pé: ou seja, o ciúme. Mas aí já é outra história. /// No livro Solidão a Mil eu escrevo algo mais sobre essa minha tese.




Texto originalmente publicado em Abril de 2008 - Guarujá, quando eu estava reformatando meu quinto casamento. Em verdade, refinando a relação. Para que aquele amor não morresse no Pico. Como aliás não morreu, posto que cada um de nós prosseguiu, livremente, no seu respectivo e amoroso caminho florido.






Mais uma pequena história no Guarujá


Em 29 de dezembro de 2013, revisando meu livro Solidão a Mil para uma nova edição, eu encontrei na página 384 a descrição de uma conversa que eu havia tido com Fernanda S (que morava no Tortuga) quando eu fui morar no Guarujá, em 1995. Era sobre as "Dez Razões Para Nunca Mais Casar De Novo" — título de um livro que eu então estava escrevendo. Em que talvez eu ainda acrescente parênteses, deixando uma abertura em defesa da liberdade: 

Dez Razões Para (Nunca Mais) Casar De Novo.

Eis a parte inicial do Capítulo 13:

— Odeio-me por te amar... — ela me diz quase chorando.
— Não entendo — minto-lhe que não entendi, segurando-lhe as mãos.
— Odeio-me por te amar do modo errado! — ela enfim confessa. E eu sei que essa confissão lhe é dolorida. Depois de seis meses tentando mudar-me, em vão, ela jogou a toalha.
Procurando continuar o diálogo que já dura séculos, perguntei:
— Mas por que você não pode me amar do modo certo?
— Porque eu só sei amar do modo errado... — ela diz e me abraça, como se quisesse adiar o momento final. Embora ela tenha qualidades fascinantes, eu não devo abrir concessões. Ceder uma vez só é mais difícil do que ceder nunca. E se eu, algum dia, amar do modo errado só para satisfazer um grande amor, nunca mais poderei de novo amar do modo certo. Aliás, se eu fosse do tipo que ama do modo errado, nem com ela hoje eu estaria. Eu estaria lá em casa, com a outra, que passou quase três anos me esperando no portão...
— É a vida... — tento consolá-la, sinceramente. Tento mitigar-lhe a frustração. Tento esticar por amor humanitário uma relação já por demais tensionada. Porém, por dentro de mim, tudo já está decidido: chegamos ao fim. Melhor perdê-la do que perder-me.


É a vida.






Por falar em morte...



Quando uma pessoa normal fala em morte, ela geralmente está se referindo à morte biológica. Mas quando um mestre zen fala em morte, ele está se referindo à morte metafórica. Jesus não era uma pessoa normal. Jesus pregava a morte metafórica. Quando ele dizia que a felicidade só existe depois da morte, ele propunha que abandonássemos esta vida. Que a trocássemos por outra, melhor.


Mas os idiotas pensam que Jesus era um imbecil, e que estava pregando que a felicidade só virá DEPOIS da morte biológica. Nada disso! O que Jesus pregava — em verdade, em verdade — era a morte do apego, da inveja, do ciúme, do ódio e da cobiça. Olhai os lírios do campo e os pássaros do céu — dizia Ele. Mas os idiotas jamais olham para o céu. E acham que as asas foram feitas para guardar dinheiro e proteger as posses...


Os idiotas jamais entrarão no Reino de Deus.






Entretanto, eu acho belíssima a ideia de existir um Deus. Uma energia poderosíssima, radiante, capaz de criar mundos — e lhes dar sentido. Uma coisa tão maravilhosa assim não pode ficar nas mãos trêmulas de pastores fazendeiros ou vendedores de CDs. Temos que nos apropriar dela. Nós, os poetas, os filósofos, os cientistas, as crianças, os artistas, os crentes verdadeiros e os ateus inteligentes — todas as pessoas sensíveis e amorosas — temos que nos juntar a Ele e dar-lhe as nossas mãos. Precisamos impedir que os aproveitadores arrendem sua imagem e pronunciem seu Santo Nome em vão.



A propósito...


Eu vivo gritando Viva!, mas você parece não me ouvir. Acho que, no fundo, todos temos uma certa tendência neurótica em deixar as coisas como estão. Em salvar as aparências... Em manter as estruturas, mesmo que apodreçam.

Quase todos temos uma enorme preguiça de agitar as circunstâncias. Propendemos a deixar tudo como está, embora vivamos fazendo promessas de mudar o mundo.

Mas você sempre deixa pra depois. Você chuta o agora. Você adia o instante. Você posterga o hoje. Você deixa tudo pra depois.

Até parece que você pensa que vai viver mil anos...

Mas não vai, não.

Portanto, vou agora mudar o meu grito de amor.


Agora eu quero que você morra!

Esse é hoje o meu desejo mais sincero. Eu realmente quero que você morraMas que essa tua morte seja apenas a morte do teu modo errado de viver. Que morra só esse teu lado emocionalmente fraco, tedioso, triste, cambaleante. 

Que você morra exatamente como Jesus morreu:  metaforicamente.


Crucifique teus anseios bobos, desfaça-se do que não presta, desmonte as relações que hoje te oprimem, abandone agora mesmo essa vidinha inexpressiva. Dê um belo salto profundo.


Morra.


Mas morra com um só e claro objetivo: ressuscitar gloriosamente logo em seguida. Nem precisa esperar três ou quatro dias, nem precisa ser parente do José de Arimateia. Nem precisa esperar o retorno da Maria Madalena.


Lembre-se: até Jesus teve que "morrer" um dia para subir aos Céus...


Um vinho laranja hoje no portão da Casa Azul.

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